A Tetraktis pitagórica Poucos filósofos, e muito menos ainda cientistas, souberam adaptar elementos sensíveis às suas teorias com tanto acerto como Pitágoras. A famosa teoria pitagórica da harmonia das esferas era muito mais profunda do que a mera conjectura da consonância das notas que os astros produzem nos seus movimentos regulares. A música era para os pitgóricos um símbolo da harmonia do cosmos e, simultaneamente, um meio de alcançar o equilíbrio interno do espírito do homem.
Para Pitágoras, o universo é um cosmos, um todo ordenado e harmoniosamente conjunto. O destino do homem consiste em considerar-se a si mesmo como uma peça desse cosmos, descobrir o lugar próprio que lhe está designado e manter em si, e à sua volta, a harmonia que lhe é devida de acordo com a ordem natural das coisas.
Nestas circunstâncias, não seria natural ver no número o princípio inteligível através do qual o cosmos divino, governado pelo espírito, manifestava ao homem a sua harmonia interna?
Na aritmética figurativa dos pitagóricos, construída mediante pedras (psefoi, calculi) os números constituíam a armação inteligível das formas. Ao mesmo tempo, revelavam as proporções que regiam as consonâncias musicais.
Um dos mais enigmáticos fragmentos pitagóricos chegados até nós é a breve fórmula que a seguir se transcreve. De difícil interpretação, é de se supor que ela contém algo muito perto da quinta essência do espírito pitagórico.
" Não, por Aquele que tenha entregado às nossas almas a Tretraktis, uma fonte que contem as raízes da natureza eterna"
Ao que parece, este estranho enunciado constitui um juramento secreto sobre o conteúdo da teoria pitagórica, e era, portanto, reservado apenas a membros da comunidade.
"Aquele", supõem-se que seja o próprio Pitágoras. A "Tetraktis" consiste provavelmente nos números 1, 2, 3, 4 que os pitagóricos representavam conjuntamente na seguinte forma figurativa:
X
X X
X X X
X X X X
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/musica/pitagoras.htm